Francisco Bustillo é o segundo funcionário uruguaio a renunciar devido a um escândalo envolvendo um acusado de tráfico de drogas procurado em vários países
Francisco Bustillo é o segundo funcionário uruguaio a renunciar devido a um escândalo envolvendo um acusado de tráfico de drogas procurado em vários países AFP

O ministro das Relações Exteriores do Uruguai renunciou abruptamente na quarta-feira, após a divulgação de gravações nas quais ele supostamente tenta encobrir informações envolvendo Sebastian Marset, um acusado de traficante de cocaína e alvo de uma caçada humana internacional.

"As coisas não são como foram apresentadas", afirmou o ex-diplomata Francisco Bustillo num comunicado obtido pela AFP.

Mesmo assim, ele disse que a situação era "suficientemente sensível" para oferecer sua renúncia imediata ao presidente Luis Lacalle Pou, que atualmente está nos Estados Unidos.

A decisão de Bustillo seguiu-se ao depoimento na manhã de quarta-feira da ex-vice-ministra das Relações Exteriores, Carolina Ache, como parte de uma investigação sobre as circunstâncias em torno da capacidade de Marset de receber um passaporte uruguaio.

Marset é procurado por acusações de drogas em seu país natal, Uruguai, Paraguai, Brasil e Estados Unidos.

As autoridades o acusam de ser um dos traficantes de drogas mais poderosos da região do Cone Sul, transportando carregamentos de várias toneladas de cocaína através do Uruguai.

Ele foi alvo de um grande esforço de busca na Bolívia no final de julho, com milhares de policiais destacados para caçá-lo, mas aparentemente conseguiu escapar da captura.

No final de 2021, foi detido nos Emirados Árabes Unidos sob a acusação de utilização de documentos falsos, mas acabou por receber um passaporte uruguaio autêntico.

Ache renunciou em dezembro de 2022 em meio a um escândalo sobre a disseminação de um bate-papo no WhatsApp de novembro de 2021, no qual um funcionário do Ministério do Interior descreveu Marset como "um narcotraficante muito perigoso e pesado".

Ache disse aos repórteres que testemunhou na quarta-feira "para colaborar com a investigação para que de uma vez por todas os fatos sejam esclarecidos e toda a verdade seja conhecida".

A mensagem do WhatsApp contrariava Bustillo, que, ao testemunhar perante o Senado em agosto de 2022, havia dito que "Em novembro (de 2021), quem entre todos nós sabia quem era Marset?"

Ache reiterou na quarta-feira que não teve envolvimento ou interferência no processamento do passaporte de Marset, mas disse que avisou o órgão emissor "que era alguém perigoso" assim que foi informada.

"O que percebi mais tarde é que todos já sabiam do que se tratava muito antes de mim", disse ela numa conferência de imprensa na quarta-feira, sem fornecer detalhes do seu depoimento.

Mais tarde naquele dia, gravações de áudio de conversas telefônicas e mensagens de chat que ela apresentou como prova foram publicadas e confirmadas por vários meios de comunicação.

"Perca o telefone", recomenda Bustillo a Ache em uma das ligações, que segundo o veículo Busqueda foi gravada no dia 14 de novembro de 2022.

Em outro clipe, Bustillo chama o funcionário do Ministério do Interior que enviou a mensagem para Ache de "idiota", observando que se ele divulgasse as conversas "ele daria um tiro no próprio pé".

Em seu pedido de demissão, Bustillo nega qualquer ilegalidade no processamento do passaporte de Marset.

"É claro que também não menti nem me desviei da verdade no interrogatório parlamentar", disse, acusando Ache de tirar "as conversas fora do contexto e de agir de má-fé".

Ele deve prestar depoimento aos investigadores na sexta-feira e prometeu "esclarecer a veracidade do que foi feito e o relato distorcido que foi feito".

Apesar de uma busca massiva durante o verão na Bolívia, o suposto traficante de drogas Sebastian Marset, do Paraguai, escapou da prisão
Apesar de uma busca massiva durante o verão na Bolívia, o suposto traficante de drogas Sebastian Marset, do Paraguai, escapou da prisão AFP