A destituição do presidente esquerdista Pedro Castillo provocou protestos em todo o Peru que já mataram pelo menos 22 pessoas
A destituição do presidente esquerdista Pedro Castillo provocou protestos em todo o Peru que já mataram pelo menos 22 pessoas AFP

O presidente deposto do Peru, Pedro Castillo, convocou da prisão na quinta-feira para uma visita de inspetores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que estão no país para investigar a agitação civil generalizada.

No último dia da visita técnica da CIDH, Castillo insistiu no Twitter que havia sido "privado arbitrariamente" de seus direitos e exigiu uma reunião "urgente" com a equipe na presença de seu advogado de defesa.

Castillo sofreu impeachment e foi preso em 7 de dezembro, depois de tentar dissolver o Congresso para governar por decreto.

Desde que chegou ao poder em julho de 2021, ele enfrentou forte oposição política em todas as frentes e investigações sobre inúmeras reivindicações de corrupção.

Depois de seu autogolpe fracassado, Castillo agora é acusado de rebelião e conspiração e foi detido em prisão preventiva por 18 meses.

A expulsão do ex-professor de escola rural e líder sindical causou protestos em todo o país, com o ouvidor de direitos do Peru relatando 22 pessoas mortas em confrontos e mais de 600 feridos.

A CIDH informou que sua equipe técnica no Peru recebeu "informações sobre violações de direitos humanos no contexto dos protestos".

Castillo publicou na quinta-feira uma carta assinada por seu advogado Wilfredo Arturo Robles Rivera no dia anterior, dirigida à comunidade internacional e aos peruanos.

Nela, o advogado alegou que não havia notícias da equipe da CIDH, apesar das garantias de que uma visita à prisão estava em sua agenda.

Rivera disse temer que a reunião não aconteça devido a "pressões políticas" e alertou contra a visita da CIDH servir "aos interesses do governo de fato" sobre os do "presidente constitucional" Castillo.

A CIDH, por sua vez, tuitou na quinta-feira que sua delegação se reuniria com autoridades e organizações cívicas em Lima e Ayacucho para coletar informações "sobre a crise institucional e os protestos".

Não mencionou o pedido de Castillo.

Castillo foi substituído por sua vice-presidente Dina Boluarte, que deve servir até que novas eleições - antecipadas pelo Congresso a partir de 2026 - sejam realizadas em abril de 2024.

Seu reinado é amplamente considerado ilegítimo pelos apoiadores de Castillo, que foram às ruas aos milhares para exigir sua libertação, apesar de enfrentar seis investigações criminais separadas.

Os manifestantes também querem que Boluarte renuncie e que o Congresso seja substituído.

Enquanto isso, a Human Rights Watch instou as autoridades peruanas na quinta-feira a "conduzir investigações imediatas, completas e independentes sobre pelo menos 21 assassinatos de manifestantes".

Também deve investigar "alegações de uso excessivo da força pelas forças de segurança e atos de violência por parte de alguns manifestantes", disse o grupo de direitos humanos.

A esposa de Castillo, Lilia Paredes, que recebeu asilo no México, onde chegou com os dois filhos do casal na quarta-feira, pediu "atenção especial" à saúde de seu marido.

"O futuro do nosso país está agora nas mãos do povo", disse ela no Twitter.