O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, dá uma declaração à imprensa no Palácio da Alvorada, em Brasília
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, dá uma declaração à imprensa no Palácio da Alvorada em Brasília, Brasil, 1º de novembro de 2022. Reuters

A tentativa do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de desafiar a eleição que ele perdeu no mês passado parece fraca no mérito, de acordo com especialistas eleitorais e analistas políticos, mas ainda pode animar seus apoiadores que protestaram contra sua derrota.

Em denúncia apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta terça-feira, aliados de Bolsonaro argumentaram que votos de algumas máquinas deveriam ser "invalidados", citando indícios de "mau funcionamento" e questionando a vitória de seu rival de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva .

Giuseppe Janino, um dos criadores do sistema de votação eletrônica do Brasil, disse que a reclamação parecia focada em logs de máquina que não têm influência nos resultados da votação.

"Isso não passa de mais uma tentativa de desacreditar o sistema de votação eletrônica que funcionou bem, elegendo governos por 26 anos em nosso país e contribuindo para nossa democracia", disse Janino à Reuters.

A denúncia foi recebida com ceticismo pelas autoridades eleitorais e outras figuras políticas que reconheceram a vitória de Lula.

O chefe do Senado do Brasil, Rodrigo Pacheco, disse que o resultado da eleição foi "inquestionável", enquanto o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB), de centro-direita, chamou o desafio de Bolsonaro de "sem sentido". Quando o PSDB contestou o resultado da eleição presidencial de 2014, a investigação durou um ano e nenhuma irregularidade foi encontrada.

O vice-presidente Hamilton Mourão, em viagem a Portugal, reconheceu na quarta-feira que o desafio de Bolsonaro provavelmente não terá sucesso, mas disse que o processo eleitoral do Brasil precisa de mais "transparência".

Em entrevista coletiva na quarta-feira, o líder do Partido Liberal de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, reiterou alegações de supostas falhas nos registros das urnas no segundo turno da eleição, mas afirmou que tais falhas não foram encontradas no primeiro turno. As máquinas utilizadas foram as mesmas em ambas as rodadas.

Enquanto Costa Neto falava, o site do partido foi inundado com mensagens de pessoas pedindo intervenção militar contra a volta de Lula ao cargo. "Forças Armadas SOS", muitos deles disseram.

"O estilo de Bolsonaro é sempre partir para o confronto, e esse desafio é evidentemente uma forma de manter mobilizados seus partidários de extrema direita", disse o estrategista político Luiz Flavio Guimarães.

Ele disse que o Partido Liberal de direita não forneceu nenhuma evidência de fraude quando apresentou a denúncia, acrescentando que os aliados do presidente pareciam desapontados com a fragilidade do caso apresentado às autoridades eleitorais.

O analista André Cesar, da consultoria Hold Legislativa, disse, no entanto, que o desafio daria munição para um movimento de protesto em andamento dos apoiadores radicais de Bolsonaro.

"Seus argumentos são frágeis, mas isso servirá para manter mobilizados os mais radicais de seus partidários, garantindo que eles continuarão fazendo barulho fora dos quartéis do exército", afirmou.

Apoiadores obstinados de Bolsonaro estão acampados em frente a bases do exército protestando contra a vitória de Lula, que dizem ter sido "roubada" por fraude eleitoral e pedindo a intervenção dos militares.

Seus números diminuíram nas últimas semanas e não houve sinal imediato de um aumento na quarta-feira. Mas o desafio pode lhes dar um novo impulso, disseram alguns.

"O povo está nas ruas, não vai recuar", disse um desses apoiadores - Paulo Carvalho, 54, dono de uma empresa de informática. "Se tudo o que foi revelado nesta denúncia for realmente verdade, esta é uma evidência tangível de que os resultados foram adulterados", disse ele.