Da esquerda para a direita: Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, Gustavo Petro, da Colômbia, e Chan Santokhi, do Suriname, participam de um evento latino-americano à margem da conferência climática COP27
Da esquerda para a direita: Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, Gustavo Petro, da Colômbia, e Chan Santokhi, do Suriname, participam de um evento latino-americano à margem da conferência climática COP27 AFP

Os presidentes da Colômbia e da Venezuela, Gustavo Petro e Nicolás Maduro, lançaram na terça-feira um apelo na cúpula climática da COP27 para uma ampla aliança para proteger a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.

"Estamos determinados a revitalizar a floresta amazônica... (para) oferecer à humanidade uma vitória significativa na batalha contra as mudanças climáticas", disse Petro na cúpula da ONU no resort egípcio de Sharm el-Sheikh.

"Se nós, nas Américas do Sul, temos uma responsabilidade, é parar a destruição da Amazônia e colocar em prática um processo coordenado de recuperação", disse Maduro, falando ao lado de Petro e do presidente do Suriname, Chan Santokhi.

A chave para qualquer plano de renascimento será o recém-eleito presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, amplamente conhecido como Lula, que assumirá seu cargo em 1º de janeiro e deverá participar da COP27 na próxima semana.

A participação do Brasil em tal aliança planejada será "absolutamente estratégica", disse Petro.

O esquerdista Lula enfrenta um imenso desafio para frear o desmatamento da Amazônia, um fenômeno que se proliferou rapidamente sob seu antecessor de direita, Jair Bolsonaro.

Petro, arquiteto da nova aliança proposta, pediu a colaboração dos EUA, observando que é "o país que mais polui" do continente americano, enquanto o sul da massa de terra é "a esponja que mais absorve dióxido de carbono no continente".

Ele defendeu "a abertura de um fundo" alimentado pela "contribuição de empresas privadas e nações do mundo".

Petro havia anunciado no dia anterior que seu país pretende reservar US$ 200 milhões por ano nas próximas duas décadas para proteger a Amazônia.

Ele pediu solidariedade das organizações internacionais, em um momento em que a COP colocou em sua agenda a questão da indenização por danos causados pelo aquecimento global, apesar da resistência dos países desenvolvidos.

"Um dos assuntos que podem trazer consenso entre nós, África e parte da Ásia é (um mecanismo de) perdão da dívida (nacional) como meio de financiamento da ação" contra as mudanças climáticas, disse Petro.

O Fundo Monetário Internacional teria "um papel a desempenhar" ao trabalhar com os países em desenvolvimento nesta questão, acrescentou.

A "mensagem política (é) muito importante", mas a questão "é saber como essas intenções se concretizarão", disse Harol Rincon Ipuchima, representante dos povos indígenas na Colômbia.

Ipuchima, que também é co-presidente da bancada indígena na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, criticou o presidente Petro por não ter falado mais com sua comunidade, a quem descreveu como "os senhores do território".

De acordo com a Amazon Conservation, que monitora o desmatamento na região, cerca de 13% da biomassa original da floresta amazônica já desapareceu.

A bacia amazônica, que se estende por mais de 7,4 milhões de quilômetros quadrados, cobre quase 40% da América do Sul e abrange nove países, com cerca de 34 milhões - a maioria indígenas - vivendo nessa área.

Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, assumiu em 7 de agosto, com um ambicioso plano ambiental que visa converter seu país em energia limpa e interromper a exploração de novos depósitos de petróleo, entre outras medidas.

Ele, no entanto, reconheceu que a presença de reservas de hidrocarbonetos no subsolo na região amazônica, começando pela Venezuela, poderia frustrar esse plano, mas enfatizou que está determinado a abandonar os combustíveis fósseis.

A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad Gonzalez, defendeu uma "diversificação" das economias dos países que possuem tais recursos, instando-os a "deixar as reservas no solo".

Ipuchima lembrou que "todos os territórios indígenas da Amazônia foram destruídos".

"Não só a Venezuela, mas a Colômbia também tem muitas empresas petrolíferas nesses territórios. Da mesma forma, Peru, Bolívia e Equador", acrescentou.

O presidente Petro espera organizar uma reunião com os outros países regionais no início de 2023 para discutir sua proposta de aliança.

A participação do Brasil em tal aliança planejada será 'absolutamente estratégica', disse Petro
A participação do Brasil em tal aliança planejada será 'absolutamente estratégica', disse Petro AFP
De acordo com a Amazon Conservation, que monitora o desmatamento na região, cerca de 13% da biomassa original da floresta amazônica já desapareceu
De acordo com a Amazon Conservation, que monitora o desmatamento na região, cerca de 13% da biomassa original da floresta amazônica já desapareceu AFP