O presidente cessante do Brasil, Jair Bolsonaro, não reconheceu sua derrota eleitoral em outubro
O presidente cessante do Brasil, Jair Bolsonaro, não reconheceu sua derrota eleitoral em outubro AFP

O presidente cessante do Brasil, Jair Bolsonaro, que não reconheceu sua derrota eleitoral, deixou o país na sexta-feira, dois dias antes da posse de seu sucessor e pouco depois de se despedir de seus seguidores com lágrimas nos olhos.

O polêmico líder de extrema-direita partiu para a Flórida, nos Estados Unidos, em um avião da força aérea por volta das 14h (17h no horário de Brasília), segundo vários meios de comunicação.

"Estou voando, volto em breve", informou a CNN Brasil, segundo Bolsonaro.

Seu avião pousou em Orlando pouco depois das 21h (02h00 GMT de sábado), de acordo com o site de rastreamento de aviação FlightAware.

Isso significa que ele perderá a posse de domingo e não transferirá a faixa presidencial para o presidente eleito de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, como é tradição.

Bolsonaro é tecnicamente presidente por mais dois dias.

Seu vice-presidente, Hamilton Mourão, agora é presidente interino e fará um discurso nacional no sábado, segundo a emissora pública RNR.

A presidência não respondeu às perguntas da AFP sobre o momento e o objetivo da viagem de Bolsonaro.

Mais cedo na sexta-feira, Bolsonaro garantiu a apoiadores em uma transmissão ao vivo nas redes sociais que "não veremos o mundo acabar em 1º de janeiro", quando Lula assumir o manto presidencial.

"Temos um grande futuro pela frente", declarou o presidente cessante, acrescentando: "As batalhas estão perdidas, mas não perderemos a guerra."

Foi o primeiro discurso ao vivo de Bolsonaro desde sua estreita derrota em outubro, após a qual o usuário ativo da mídia social ficou estranhamente silencioso.

Lula venceu a eleição com 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro.

Sua posse seria a primeira desde 1985 sem que o presidente cessante transferisse a faixa presidencial para seu sucessor.

Naquele ano, o último presidente da ditadura militar, general João Batista Figueiredo, esnobou a posse de José Sarney, segundo reportagens da época do jornal O Globo.

Dirigindo-se a centenas de seguidores que continuam protestando do lado de fora de instalações militares em Brasília e outras cidades exigindo a intervenção do exército para impedir a ascensão de Lula, Bolsonaro disse que deu o seu melhor.

"Eu nunca esperei chegar aqui", disse ele, em lágrimas.

"Pelo menos, atrasamos em quatro anos o colapso do Brasil nessa ideologia nefasta, que é a esquerda... Diga o melhor de mim", acrescentou Bolsonaro, que segundo a maioria dos analistas deixa um histórico ruim que inclui destruição ambiental e Caos Covid-19.

Segundo o Diário do Governo desta sexta-feira, a presidência havia autorizado uma delegação a viajar com Bolsonaro a Miami de 1º a 30 de janeiro para fornecer "segurança e apoio pessoal".

O líder cessante falou pela primeira vez na sexta-feira sobre um ataque a bomba fracassado em Brasília há uma semana por um homem que disse ser um apoiador de Bolsonaro tentando semear "caos" antes da posse e "impedir o estabelecimento do comunismo no Brasil" sob Lula.

"Nada justifica essa tentativa de terrorismo", disse Bolsonaro.

A tentativa frustrada com explosivos colocados em um caminhão de combustível, bem como atos de vandalismo praticados por outros torcedores de Bolsonaro, levaram as autoridades a mobilizar um contingente de segurança inédito para a posse de domingo.